Maternidade: Nasce uma nova mulher!

GUEST POST POR JULIA BITTENCOURT

MATERNIDADE

Você já deve ter ouvido essa frase: “Agora que você se tornou mãe, você é uma nova mulher”. E é verdade! Quando você se torna mãe você deixa seu lugar de apenas filha na sua família de origem, de apenas esposa na sua nova família com seu marido, de mulher sem filhos no mercado de trabalho, de amiga disponível pra tooodas as horas no seu círculo de amizades… Você agora também é mãe!

Ou seja, essa pequena palavra inclui uma série de grandes mudanças: existenciais, na família, na rotina, além de uma carga de responsabilidades e expectativas – tanto da sua parte quanto das pessoas ao seu redor. De fato, há uma nova configuração no sistema familiar, na dinâmica, nos papéis, no dia a dia…

E grande parte das mulheres (para não dizer todas!) vive um turbilhão de emoções, geralmente bastante ambíguas: muita felicidade por se tornar mãe, mas se sentem cansadas e exaustas com a nova rotina; poderosas por gerarem um novo ser, mas inseguras se vão conseguir dar conta de cuidar de alguém tão pequeno e dependente; e por aí vai…

Sou psicóloga clínica e perinatal e recebo no consultório mulheres que não se reconhecem com a chegada da maternidade, querem “se resgatar”, sentem-se perdidas e esperançosas com o dia em que tudo “vai voltar ao que era antes”. Mas esse dia não chega!

Muitos autores (Konicheckis; Golse; Stern) afirmam que o nascimento de um filho transforma definitivamente o psiquismo de cada um dos pais. Para Stern, por exemplo, esse evento provoca uma “neoformação psíquica” em ambos, sugerindo que a inclusão do bebê no psiquismo parental produz mudanças profundas e irreversíveis – mudanças que ocorrem em função das projeções e representações parentais sobre o bebê e também mudanças nas interações entre esse bebê e seus pais. Por isso, as novas mães (e os novos pais também) precisam se trabalhar para atualizarem seu novo “eu”!

Acredito que seja um erro focar o pré-natal apenas na parte física e biológica, esquecendo o lado psicológico e emocional. Afinal, somos seres integrados e não podemos separar! Mas na prática, o que vimos é que, ao longo de toda gestação, as mulheres vão às consultas médicas com o obstetra, algumas com o cardiologista, outras com a pediatra antes do filho nascer… Tudo para garantir gravidez e bebê saudáveis.

Poucas são as que se disponibilizam a fazer um acompanhamento psicológico, para se olharem durante a gravidez e se prepararem para o parto e o puerpério, todos momentos de grandes transformações e bastante mobilizadores, além de se prepararem para a maternidade em si – com ela, o luto da antiga mulher e o nascimento de uma nova mulher.

Portanto, é importante o autoconhecimento e uma atualização e aceitação dessa nova identidade. Diferente do que a sociedade impõe, essa transição não é simples e fácil. Ela é complexa e a forma que ocorre e os sentimentos envolvidos variam de mulher para mulher! Mas aos poucos as coisas vão se ajeitando…

Antes de finalizar, só acho importante lembrar que, além de mãe, você continua sendo esposa, filha, amiga, profissional… E a vida continua para além dos filhos! Só que de fato você nunca mais será a mesma: sua identidade e seu papel na sociedade vão ter mudado para sempre.

 

Sobre a psicóloga Julia Bittencourt (CRP: 05/49022):

Julia Bittencourt é psicóloga clínica com ênfase em Gestalt-terapia, com formação em Psicologia Perinatal e Parental e em formação em Terapia Familiar Sistêmica, além de ter capacitação em Psicossomática e em Psicologia Hospitalar, Psico-Oncologia e Luto. Atende gestantes, puérperas e novas mães, além de jovens, adultos e idosos em seu consultório na Barra da Tijuca, e também online no Portal Terapia de Bolso (www.terapiadebolso.com.br). Participa ainda do projeto social da Paróquia São Francisco de Paula (Barra da Tijuca/RJ), realizando atendimento clínico a pessoas com baixa renda e em vulnerabilidade social. Site:www.juliabittencourtpsi.com.br