Relato de parto de Kátia

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O melhor de mim

Desde antes de engravidar Carlos, meu esposo, defendia o parto humanizado (embora ainda não conhecesse esse termo) ao deixar claro que ficaria feliz que seu filho nascesse na água, porque era melhor para o bebê e para mim também. Eu achava muito estranho e pensava que deveria dar um jeito de fazê-lo desistir dessa “ideia maluca”. Pensava ser um conflito cultural (Carlos é colombiano) que eu tinha para resolver.
A gravidez foi muito tranquila e saudável. Tinha uma obstetra/ginecologista de total confiança, afinal ela é pesquisadora e para mim isso bastava. Então, estava em boas mãos.

Um dia, a caminho de uma consulta pré-natal, Carlos ressaltou a importância de conversar sobre o parto e eu logo disse que estava certa que seria cesárea, era o mais lógico e seguro e por aí segui meu discurso persuasivo: “nós devemos confiar na medicina, amor, na ciência (afinal somos pesquisadores, ambos fazendo doutorado)… se a cesárea existe é para evitar problemas…” (doutorandos ignorantes rsrsrsr).
Pois bem, nesse dia Carlos apenas disse que me apoiaria em qualquer decisão, desde que ela fosse o melhor para mim.
Por intermédio de uma amiga (Patrícia Asta), assistimos ao filme O Renascimento do Parto e, ao final, Carlos disse “e aí, como Ana Clara virá ao mundo?” e eu respondi “é certo que não pode ser cesárea, a menos que estritamente necessária, mas não sei como vou fazer isso”.

O fato é que o filme me tirou da zona de conforto – Ana Clara não ficaria para sempre na minha barriga e eu tinha que tomar uma decisão. E a cesárea já não fazia sentido, visto que tudo estava muito bem. E para decidir eu precisava me informar (hoje eu sei que isso é empoderar!)
Foi a partir daí que ele literalmente ” deu seu jeito” e por meio da mesma amiga fomos apresentados ao grupo Maternidade Suave e à querida Aline Barreto.

Confesso que não acreditava que aquilo tudo que falavam pudesse dar certo, não era minha realidade. Um dia ouvi lá que parir era gostoso e achei uma maluquice. Eu era e fui por muito tempo a mais cética do grupo; parecia uma militância exageradamente radical, muito distante das “minhas” crenças científicas (doutoranda ignorante mais uma vez rsrsrs).

Mas o grupo foi essencial no meu processo de empoderamento. É claro que deixei “minha” obstetra pesquisadora, li muitos artigos científicos (Sim, eles existem!!!) sobre parto natural humanizado e iniciei uma maratona em busca de uma que respeitasse minhas escolhas e permitisse à minha familia escrever nossa própria história.

E assim chegamos ao dia P-1, 39 semanas e 3 dias. Eram 3:15h do dia 29/04/15 e já não consegui mais dormir. Há alguns dias dormir já não era mesmo uma tarefa fácil.  Mas dessa vez não era só o incômodo de falta de posição na cama. Estava com cólica. Ebaaaaaaaaaaaa, que delicia! Fiquei empolgada e senti que aquele era um dia diferente. Não acordei Carlos, mas não dormi mais. Tinha um perfil biofísico fetal para fazer naquele dia, como rotina da consulta semanal, e fomos para a maternidade. Já havia contado para Carlos, a cólica vinha acompanhada de uma leve contração e nós comemorando…durante o exame comentei com a médica e ela disse que podia até ser,  mas muito incipiente, colo grosso ainda.

Carlos foi trabalhar, voltei para casa dirigindo e as contrações foram aumentando em intensidade. Mas estavam longe de terem alguma regularidade. Almocei com minha mãe, tomei um banho e fomos para o shopping – a essa altura eu sabia que estava diferente, mas estava convencida de que poderia levar mais de um dia ainda, então pensei “vamos andar para não ficar pensando na dor”.
Avisei minha doula Aline Barreto e fui ” bater perna” no shopping. Quando vinha a contração eu disfarçava. Não tinha contado para minha mãe para não criar expectativa, afinal podia durar muitas horas ainda em trabalho de parto e não queria controlar o tempo.  Portanto, eu curtia a dor. Me emocionava a cada contração porque ela me aproximava da minha princesinha.

Chegamos em casa às 19:30h e fui para o quarto. As contrações estavam muito fortes, Carlos chegou do trabalho e eu mostrei os registros no aplicativo. Conversando com minha mãe na mesa de jantar veio uma contração muito forte e aí não deu pra disfarçar…e quando ela passou eu disse: ” sua netinha quer nascer”. Sorrimos, transbordando amor…
Fui para o quarto e aí já perdia a graça em cada contração. Buscava a posição, me concentrava na respiração e esperava…estava aumentando a intensidade e a duração entre as contrações era de apenas 2s. Quando mandei os registros do aplicativo para a Aline ela imediatamente disse que viria para minha casa e mandou que eu fosse para o chuveiro quente. Era a prova. Quando ela chegou em casa, cerca de meia hora depois, eu estava totalmente sem humor. Doía muito, tinha perdido o tampão mucoso, já havia avisado a obstetra e ela pediu que fosse à maternidade para ser examinada.

Eu me questionei se suportaria a dor do parto, porque ainda não tinha caído a ficha de que estava em trabalho de parto ativo, e se demorasse muito seria insuportável. Eu pensava que talvez eu tivesse usado o aplicativo de forma errada, apesar da Aline confirmar que realmente já estava engrenado. Fomos então para a maternidade; na minha cabeça, voltariamos e teria um longa jornada pela noite toda e, quem sabe, na manhã seguinte nós caminhariamos no parque do condomínio, piscina, massagens….ia fazendo planos para o meu TP.
Mal chegamos na maternidade, que fica a 5 min de casa, e eu não pude suportar a contração. Entrei sem mesmo fazer registro na emergência e, ao ser examinada, para minha surpresa (só MINHA mesmo!!!! Rsrsrs) eu estava com dilatação total!!!
Eram 22:40h e eu não acreditava. Não que eu não estivesse sentindo dor, estava muitooooooo intenso, mas para mim ainda ia demorar. Olhei para Aline e perguntei se a medica estava certa kkkkkkkkkkkkk. E então era mesmo a hora.

A médica (plantonista) ligou para minha obstetra, enfermeiras começaram a tirar minhas roupas, me colocaram numa cadeira de rodas e subimos para o centro cirúrgico. Eu tinha me preparado para ter o parto na água, mas então me informaram que a sala estava ocupada. Enquanto me encaminhavam para o centro cirúrgico, fui apresentada ao sistema:
1. a enfermeira brigou comigo porque meu cabelo estava molhado (oh, meu Deus, eu devia estar com cabelos escovados, soltos ao vento), tentaram secá-lo com secador, mas veio uma contração e eu saí da cadeira de rodas e fiquei encolhida no chão e ela desistiu de mim;

2. ao chegar no centro cirúrgico, a equipe de plantão a postos e a médica mandou que eu deitasse em posição ginecológica (hein?????) e eu falei que não… A contração veio e eu fiquei de quatro na maca (porque ela não me deixou ir para o chão);

3. Estavam preparando o instrumental para o parto normal e mandaram que eu deitasse para colocar o acesso à medicação (hein????) e eu novamente recusei, dizendo em meio a contrações que eu tinha escolhido o parto natural, que não queria anestesia nem medicação. Enfim, entre uma contração e outra eu brigava com o sistema e a plantonista me achando louca!!!!  Afffffffff

Minha obstetra chegou em 25 min (ufaaaaaaaa) e então trocou-se o cenário!!! De cara, ela me perguntou em que posição queria ficar (isso é respeito!!). Ela e minha querida doula prepararam a sala para que eu ficasse em cócoras, improvisaram uma banqueta para que o Carlos pudesse me apoiar e elas ficaram ali, NO CHÃO (sim, porque elas respeitaram a minha escolha).

Luzes apagadas e a canção Reconhecimento tocando. Foi assim, num ambiente de celebração, de expressão máxima do amor, numa explosão de ocitocina, que Ana Clara veio ao mundo às 00:26h do dia 30 de abril.

Tudo muito lindo, prazeroso. E rápido! E, de fato, eu pude comprovar que o círculo de fogo te conduz do inferno ao céu em milésimos de segundos e você já não sente mais nada a não ser muito amor.

Dizer que não dói é mentira, dói de forma indescritível, mas não é o conceito de dor que conhecemos, conectada a um sofrimento. É uma dor de amor. Sagrada. Prazerosa. Puro êxtase.

Quando senti Ana Clara escorregar foi gostoso e eu desejei sim sentir tudo de novo. Parir é lindo!

E tê-la de uma forma tão respeitosa – Carlos participando de todo o processo me segurando em cada contração, médica e doula ali esperando a nossa hora, Ana Clara nos meus braços cheia de vernix, pediatra esperando o cordão parar de pulsar e entregando a Carlos para ele cortar, Ana Clara mamando e nós três ali, em contemplação por um tempo…
Quando levantei da posição não senti nenhuma dor, estava ótima, realizada e muito, muito feliz.

Sem pressa, sem hora marcada. Na hora dela, do jeito que eu escolhi. Perfeito. Divino. Eu vejo este cenário como uma grande celebração. Não houve sofrimento, só amor.

De tudo isso, grandes lições:
– não há decisão sem informação. Muito grata ao Carlos que correu atrás da informação e ao grupo Maternidade Suave, em especial à querida Aline;
– a natureza é perfeita, nós sabemos parir e os bebês sabem nascer. É uma sintonia, um encaixe perfeito.
– o sistema é uma merda (nojo)
– parir é divino, sagrado!
– e a dor? É a dor que você vai  amar, incondicionalmente, como nunca amou.

Kátia Kelvis Cassiano Lozano

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Fases do desenvolvimento motor do bebê e criança

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Os primeiros movimentos realizados pelo recém nascido são considerados pré-funcionais, ou seja, são preparatórios para os movimentos mais maduros que aparecerão ao longo do seu desenvolvimento. Estes movimentos pré-funcionais já podem ser observados a partir de 15 semanas de gestação, e ocorrem em resposta aos estímulos e não pela vontade do feto. A sucção, deglutição e preensão, são exemplos desses movimentos que ajudam e mantem a sobrevivência do bebê nas primeiras semanas de vida.

Até os 28 dias de vida, o bebê é considerado um recém nascido, mas você pode se surpreender com os movimento que ele já é capaz de fazer, como por exemplo, esticar as pernas com força, girar no berço e até simular uns passos quando colocado em pé. Todos estes são movimentos pré-funcionais ou reflexos se transformarão de um comportamento motor automaticamente desencadeado para uma atividade sujeita ao controle da vontade, através da prática e experiência. Seu recém nascido também é capaz de acompanhar brevemente, um objeto ou um rosto, mas sua visão ainda é pouco nítida.

Entre 1 e 2 meses de vida, os bebês iniciam o treinamento para o controle de cabeça, esta será a primeira grande aquisição motora do seu bebê, que quando apoiado com a cabeça em seu ombro ficará jogando-a para trás com força.

Uma dica interessante para o bebê dormir por mais tempo nesta fase, é aninhá-lo para que se sinta apertado, com os membros superiores junto ao corpo. Pode utilizar rolinhos, mantas, enrolando-o como um charuto ou fazendo ninhos. Além de todo o benefício de reviver assim a sensação de aconchego no útero, há uma grande vantagem para o reflexo de Moro não acordar o bebê. Este reflexo aparece quando o bebê se assusta com algo, que pode ser um barulho até baixo para nós, e desencadeia um movimento rápido de abertura e extensão dos braços, simulando um abraço. Este “susto” seguido deste movimento normalmente acorda o bebê, por isso, envolvê-lo com os braços apertadinhos, pode inibir este reflexo, permitindo assim um sono mais longo para eles e para os pais.

Todos os marcos do desenvolvimento que serão mostrados a seguir, são uma estimativa do momento que seu bebê poderá atingi-los e pode ser adiado ou adiantado em 2 meses.

3 meses: Capacidade de observação das próprias mãos com os olhos, levando ambas ao centro do corpo, uma preensão simples de objetos. O controle do pescoço já estará bem desenvolvido e ele conseguirá manter a cabeça firme por alguns segundos.

4 meses: O bebê consegue ficar de bruços apoiado em seus antebraços, nesta fase ele já pode rolar em bloco, isto é, realizar o movimento de rolar de prono para supino, sem dissociar o quadril dos ombros.

5 meses: o bebê consegue colocar os pés na boca, e a preensão dos objetos é tão forte que há dificuldade em soltá-los. Os movimentos sempre se iniciam de grosseiros para depois serem refinados, por isso a preensão pode ser bem forte no começo. Pode se virar ao escutar o próprio nome, põe objetos na boca e se mantém-se sentado com apoio a frente do corpo. De bruços consegue esticar os braços e manter o apoio nas mãos. Quando puxado para sentar, o bebê faz flexão e eleva a cabeça, acompanhando o movimento.

6 meses: Imita sons, faz bolinhas de cuspe, se vira de barriga para cima e para baixo,  dissociando as cinturas, senta com menos apoio, especialmente esta última aquisição demonstra que seu bebê está pronto para iniciar a alimentação sólida.

7 meses: senta sem apoio, já pode se arrastar e puxar objetos em sua direção.

8 meses: transfere objetos de uma mão para a outra e atira-os no chão, pode estar engatinhando. O engatinhar não é considerado um marco do desenvolvimento pois muitos bebês deixam de realizá-lo e já é comprovado que não interfere em nada para a aquisição da marcha.

9 meses: aponta para o que deseja, inicia o uso de movimento de pinça, bate um objeto contra o outro e deixa de devolvê-lo a quem lhe foi dado, fica em pé com apoio. Começa a introduzir o dedo indicador no ouvido, boca e nariz das pessoas.

10 meses: A marcha lateral pode ser iniciada, esta é uma ferramenta importante para transferir o peso de um pé para o outro e se preparar para a marcha independente. Mostra o que quer com gestos, pode dar tchau.

11 meses: Coloca objetos dentro de um recipiente, quando faz mais esforço para alguma ação, abre a boca e a mão oposta, demonstrando a dificuldade em realizar tal tarefa. Pode ficar em pé sozinho por alguns segundos e imita ações dos outros.

12 meses: Atende e cumpre instruções simples, como entregar um objeto que lhe foi dado, pode dar alguns passinhos, com base alargada e membros superiores elevados.

14 meses: Andar sem apoio, subir em móveis, andar na ponta dos pés e correr costuma ser alcançado nesta fase, também vira páginas de revistas e jornais, rabisca papéis.

15 meses: Pode comer sozinho com a colher, e já se estabelece a preferência por uma das mãos. Consegue subir escadas com ajuda das mãos nos joelhos.

18 meses: Realiza marcha com apoio dos calcanhares, corre com firmeza.

24 meses: Começa a se despir e vestir voluntariamente. Consegue descer degraus de forma não recíproca.

Aos 2 anos não é mais considerado um bebê, assim a criança de 2 á 3 anos, já consegue chutar uma bola sem perder o equilíbrio e atirá-la por cima do braço, também pode saltar com os dois pés juntos e subir escadas alternando os pés.

Aos 4 anos fica apoiado sobre um dos pés e pular com um pé só.

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Nathália Moura é mãe de Maria Clara, entusiasta do universo da maternidade,  Fisioterapeuta e Mestre em Ciência da Reabilitação.

A dor do parto – Como lidar

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No post A dor do parto comentamos sobre a tão temida dor do parto. Discorremos sobre as diversas razões pelas quais a sociedade em si coloca um caráter tão negativo nela.

Tivemos o encontro do Maternidade Suave nos dias seguintes e lá pudemos esmiuçar sobre o assunto e entender os porquês dessa dor ser vista como algo ruim; assim como levantar soluções para lidar com a dor do parto de uma forma mais saudável e natural.

Vou enumerar aqui os principais pontos discutidos naquele encontro afim de esclarecer às futuras mamães de que essa dor pode ser muito mais amena que vocês imaginam com a ajuda de técnicas que podem ser trabalhadas por qualquer pessoa, mas com o resultado mais efetivo, caso a parturiente tenha acesso à algumas informações primordiais e a ajuda profissional de uma doula.

Primeiramente falarei do lado emocional. Como o lado emocional pode ter um peso de ouro na percepção de dor da mulher. Desde que comecei acompanhar gestantes em trabalho de parto, tenho observado como o equilíbrio emocional da mulher tem um impacto marcante na percepção das mulheres. E o que seria a fonte deste equilíbrio emocional? A resposta à isso é um conjunto de fatores associados, uns com mais peso, outros com menos.

Um desses fatores é a relação com o parceiro. A mulher que se sente amparada, segura e confiante com o companheiro, vai para o parto muito mais tranquila. Pois ela sabe que ali ela terá um ombro amigo e um incentivador para aquele momento tão importante na vida do casal. Só que a harmonia da relação não é construída de uma hora para outra; ela é construída dia após dias no desenvolvimento da união. E o período pré-natal é uma ótima oportunidade para estreitar os laços do casal, cultivando com muito amor e compreensão. Ou seja, companheiros, apoiem suas mulheres, protejam suas mulheres e lhes dê muito amor, pois vocês as estarão ajudando e muito no processo de parir o filho de vocês.

Outro fator que tem bastante influência no emocional da mulher é saber o que ela pensa a respeito de si. Ela precisa acreditar que ela é capaz. Ela tomar a consciência de que parir é algo natural, que a humanidade está aí graças à gerações de mulheres que deram a luz antes dela e que todas passaram pela tal “dor do parto” e depois tiveram mais filhos. Se milhares de gerações de mulheres conseguiram parir, porque você mulher do século 21 que tem muito mais recursos, não conseguiria? Essa mulher do século 21 precisa desmitificar várias conceitos que até então eram considerados “verdades”, mas que na verdade só minam a coragem da mulher, e no momento de dor mais intensa do trabalho intensa vem a tona para tirar firmeza desta mulher. Daí a importância do empoderamento. De você gestante entender que o corpo é seu, o bebê é seu, e que todas as decisões sobre o seu corpo e seu bebê devem ser compartilhadas com você. Traduzindo, mulher confiante de si, mulher segura sobre suas escolhas, tende a ter  o emocional mais equilibrado, que por conseguinte a ajuda ter uma percepção mais amena da dor.

Ter confiança e vínculo com a equipe que está lhe assistindo é de extrema importância, uma vez que a falta disso pode gerar insegurança na mulher, o que acaba resultando em medo, iniciando assim o ciclo de medo-tensão-dor. Quando estamos com medo, liberamos  no organismo um hormônio chamado adrenalina que nos dá instinto de fuga. E se sentimos medo durante o trabalho de parto é esse mesmo hormônio que é liberado. O problema é que ele compete com a ocitocina nos receptores de ocitocina que tem no útero, aumentando a sensação de dor, já que gera tensão nos tecidos moles (ligamentos do útero). Por outro lado, a adrenalina é um importante hormônio na fase expulsiva do trabalho de parto que é o momento que a mulher precisa de uma energia a mais e para também o bebê nascer mais alerta e assim ter mais facilidade para aprender a mamar e encarar este novo mundo. Só que quando temos altas taxas dessa adrenalina numa fase muito anterior ao expulsivo, ela acaba que não atua de forma tão eficaz durante o expulsivo. Ou seja, o medo gerado durante o trabalho de parto pode prejudicar também a fase expulsiva do bebê.

Não podemos deixar de mencionar a influência do ambiente físico para a percepção de dor da mulher. Ambiente acolhedor, onde se leva em conta a temperatura; iluminação; ruídos sonoros (o que inclui conversas paralelas ao processo que a mulher está vivendo, e pior ainda tentar conversar com a mulher); respeitar a privacidade, de forma que a mulher se sinta protegida sem se sentir observada. O tratamento do ambiente é de suma importância, pois o objetivo daqueles que estão ali assistindo aquela mulher em trabalho de parto deveria ser sempre o de reduzir os estímulos, uma vez que tem certos momentos a mulher entra num estado de tamanho introspecção (caso todos façam o dever de casa direitinho), que se estimulada, a mulher sai deste transe e ao racionalizar o que está vivenciando acaba por aumentar a sua percepção de dor. Diante disso, se você trabalha com parto ou será um acompanhante de uma parturiente, tenha sempre em mente a questão do ambiente que a mulher está inserida e evite ao máximo qualquer tipo de estímulo (o que inclui conversar com essa mulher), principalmente quando ela chegar no momento de mais profunda entrega.

A água é um grande aliado no alívio da dor da mulher em trabalho de parto. A água em si tem um efeito terapêutico durante o TP de ajudar no processo de dilatação, sendo a água quente tem o efeito de alívio de dor, uma vez que o calor relaxa as fibras musculares e ligamentos que estão tensionados durante o TP. Tem estudos que mostram que a água pode reduzir o TP em até duas horas, reduz os hormônios do stress (que inclui cortisol e adrenalina), aumenta as contrações eficazes e acelera a liberação de endorfina (analgésico natural). Em outras palavras, água em TP é tudo de bom! Uma grande amiga das mulheres.

Massagens, óleos de efeito fitoterápico (arnica, camomila, bértula, lavanda…), homeopatia, acupuntura também ajudam demais quando bem aplicados. São ferramentas muito úteis para ajudar a mulher em TP. As doulas em geral são muito boas com as massagens.

O uso do rebozzo auxilia no alívio das tensões dos ligamentos. Uma doula bem treinada em geral sabe utilizá-lo bem. Existe várias técnicas e cada uma indicada para um momento do TP. Em particular ele age no relaxamento dos ligamentos que sustentam o útero, diminuindo assim a sensação de dor da mulher. Vale a pena utilizar essa ferramenta durante o TP.

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Movimentar-se é essencial não só para diminuir a dor, como também para ajudar na descida do bebê na pelve da mulher. Quando a mulher fica parada numa posição desconfortável, principalmente deitada, a percepção de dor parece triplicar. Logo é de extrema importância a liberdade de movimento da mulher durante o TP. Sabemos que até hoje muitos médicos obrigam mulheres ficarem deitadas durante quase todo TP, e eu só digo uma coisa, isso se chama TORTURA e SADISMO. Negar a mulher o básico que somente a possibilidade de caminhar e se posicionar da maneira mais confortável para ela naquele momento tão forte, para mim não passa de TORTURA e SADISMO. FUJA deste tipo de profissional! Qualquer mulher que já pariu sabe muito bem que forçar uma mulher numa posição desconfortável durante o TP é de extrema maldade. Tem mulheres que podem sim se sentir confortável deitada (são poucas), mas isso tem que ser de escolha dela e não de um terceiro.

posições

Respiração e visualização também são ótimas formas de aliviar a tensão trazida pela dor.

Acredito muito que a respiração seja intuitiva durante as diversas fases do TP, mas tenho observado com certa frequência que mulheres que praticaram Ioga e Pilates durante a gestação apresentaram um padrão de respiração mais fisiológico aos momentos de TP, controlando assim muito melhor os incômodos das contrações, uma vez que respirando bem, você oxigena melhor suas células trazendo maior relaxamento (sem contar que estará oxigenando melhor seu bebê também). Então, caso tenha oportunidade, invista em algum dessas duas atividades físicas durante a gestação.

A visualização seria simplesmente visualizar as etapas que lhe esperam durante o TP. Imaginar seu bebê fazendo a rotação dentro do seu útero; imaginar seu colo do útero abrindo; imaginar seus ligamentos relaxando; imaginar você em outra condição ou em outro local de forma que lhe deixe mais relaxada; imaginar o rostinho do seu filho; e por aí vai. Tentar visualizar coisas positivas que lhe traga mais otimismo nesse momento, pois com pensamentos positivos a mulher tende a aceitar melhor as dores das contrações.

Existe uma outra coisa que tenho observado também com uma certa frequência dentre as mulheres que tenho atendido. Pode parecer um pouco controverso o que vou falar, mas é o que eu vejo acontecer. Mulheres espiritualizadas, que tem uma conexão forte com o Deus da religião delas em geral tem um TP muito mais tranquilo. Não estou falando de mulheres religiosas, mas sim espiritualizadas independente da religião. Durante a minha formação como doula e de tudo que estudei a respeito do universo do parto, eu nunca li nada a respeito disso, mas tenho visto acontecer e não poderia omitir esse fato. Acredito muito que tenha ligação com a outra questão que já mencionei acima sobre o positivismo, assim também com a questão da facilidade da entrega (ponto chave de uma boa evolução do TP). Enfim, se você tem alguma espiritualidade, recomendaria desenvolvê-la durante a gestação, pois ela pode lhe ajudar e muito à enfrentar as dores durante o TP.

E por fim a presença de uma doula pode ajudá-la demais a enfrentar as dores do parto. Doula em geram são mulheres treinadas; muitas delas já tiveram seus bebês por parto normal, ou seja, sabem exatamente o que você está vivendo naquele momento; e que dão suporte físico e emocional para a mulher antes, durante e depois do TP. Ela é uma presença contínua durante o TP da mulher promovendo encorajamento e tranquilidade para mulher. Ela tenta garantir um ambiente tranquilo, acolhedor, confortável. Ela também oferece medidas de alívio de dor através de massagens, uso de rebozo, banhos, sugestão de posições, técnicas de respiração que diminuem a percepção de dor, além de orientar o melhor momento para ir para maternidade. Durante a gestação, a doula é um suporte informativo, ajudando a mulher no seu processo de empoderamento, orientando-a com literaturas do assunto, estudos, equipes que de fato são favoráveis ao parto normal, dentre outras coisas.

Na última revisão da Cochrane (2013) concluiu que “Suporte contínuo durante o trabalho de parto tem benefícios clinicamente significativos para mulheres e crianças e não tem danos. Todas as mulheres devem ter apoio durante o trabalho de parto e parto.”

O suporte contínuo durante o parto oferecido por acompanhante capacitada:

  • Aumenta as taxas de parto normal

  • Reduz a duração do TP e a necessidade de analgesia

  • Maior satisfação com a experiência de parto

  • Redução de 10% no uso de analgesia intraparto

  • Redução de 31% de insatisfação com a experiência do parto

(Hodnett, Gates, Hofmeyr, Sakala. Continous support for women during childbirth. Cochrane, 2013)

Ou seja, a doula reuni numa só pessoa várias ferramentas para alívio da dor da mulher. Ela auxilia a mulher no empoderamento; ela ajuda a mulher no aumento de sua auto-confiança; ela é um suporte emocional antes, durante e depois do parto; ela é um suporte físico durante o parto; ela transforma o ambiente para que o mesmo possa ser mais acolhedor possível; ajuda a mulher na escolha de uma posição confortável… Enfim, uma boa doula bem treinada pode ajudá-la e muito no seu processo de parir.

“Se doula fosse remédio, seria antiético não receitar.” (John H. Kennel)

Esse foi um resumo do que foi conversado no último encontro do Maternidade Suave. Espero ter ajudado as mulheres entenderem melhor como essa dor funciona dentro do corpo de uma mulher em TP e as formas de vencer essa dor.

Se você gostou, venha para o próximo encontro!

 

 

 

 

A dor do parto

Dor do parto.
Muito se fala no senso comum sobre a dor do parto. Ela é temida por muitos, mas poucos de fato já a vivenciaram e mesmo assim habita no imaginário popular como sendo algo tenebroso, um “castigo de Deus” para as mulheres.
Mas será que ela precisa ser assim?
O que seria essa tão “temível” dor do parto, onde alguns chegam a comparar “como a quebra de 20 ossos”?
Será? Porque tantos têm medo desta dor desconhecida pela maioria dos que falam dela?
Será que existem fatores que fazem ela ter uma percepção maior para uma pessoa em relação à outra?
E a assistência do parto? Será que ela está relacionada com essa percepção de dor?

Como lidar com a tão “mal-falada” dor do parto?
Que métodos você pode utilizar para amenizá-la?
Será que dá para parir sem dor? Parto com prazer, é possível?
Porque tem mulheres que tem uma experiência tão mais tranquila que outras em relação à dor do parto?
Quer resposta para essa e outras questões em relação à dor do parto?

Quer desmitificar algumas “verdades” que dizem a respeito desta dor?
O medo desta dor, de onde vem?
Acaba que muitas mulheres se intimidam em buscar o seu parto normal, devido à esse pavor que habita no imaginário coletivo. Será que precisa ser assim?

Amanhã falaremos deste tema no encontro do Maternidade Suave. E você pode acessar ao evento do facebook aqui.

Depois voltarei aqui para dar a resposta a todas essas perguntas.
E lembre-se, o parto não precisa ser sofrimento!