Relato de parto da Nathália

[Relato escrito em 08/03/2015]

Hoje, dia 8 de março, dia Internacional da Mulher, bem conveniente dar o meu relato de parto e, com ele, homenagear todas as mulheres, que passei a admirar e amar muito mais após o dia em que me tornei mãe.

Há exatos 2 meses, pude experiênciar todo o poder e a força que TODAS nós, mulheres temos dentro de nós, adormecida, apenas aguardando para ser despertada. Estávamos com 38 semanas + 5 dias e eu realmente acreditava que Maria Clara só viria com 40, 41 ou até 42 semanas. Era uma estratégia para conter a ansiedade, a minha, mas especialmente a dos outros. Uma das muitas táticas de quando se rema contra a maré e se opta por ser protagonista do seu parto, e da sua vida. Esperar o bebê mostrar que está pronto para nascer, respeitar toda a fisiologia do corpo, acreditar na natureza. Decidir por um parto natural humanizado requer coragem sim, para ir contra tudo e todos, para lidar com as críticas, recomendações, palpites e recriminações alheias, para desistir da sua GO fofa que já fez a cesária de várias amigas e ir para o outro lado da cidade atrás da GO que de fato acredita no potencial de toda mulher que quer parir.

Logo eu, tão prática!!!! Sentia dentro de mim de forma arrebatadora (não tinha como negar ou fugir, pensamentos constantes, sonhos a noite) que este era o nosso caminho, já devia ser o tal “instinto materno” me dizendo que devia optar por mais segurança e saúde para o meu bebê e não para o que fosse mais fácil e conveniente para mim. A etapa seguinte era  convencer o marido, que junto com o “senso comum” acreditava que cesária era mais seguro, mas o remédio para isso é simples, só exige vontade: informação!!!! E então ele mesmo começou a pesquisar, e rapidinho se convenceu: “Vamos nessa juntos!” Pronto, era apenas o que eu precisa, do apoio DELE, do pai da minha filha, agora temos toda a força para encarar o mundo! E assim chegamos até o dia 8 de janeiro de 2015.

Fui para minha yoga de manhã, mesmo sentindo uma leve cólica desde o dia anterior, a recomendação era “vida normal, se movimente que isso ajuda a dilatar o colo do útero”. Até me empolguei mais do que o normal na aula, dei umas forçadinhas. No final senti uma cólica mais forte que logo passou. Fomos a consulta com a futura pediatra as 13 hs para decidirmos com ela, o que era procedimento desnecessário, apenas incômodo e agressivo, para não ser realizado na Maria Clara logo que nascesse e colocar isso em nosso plano de parto. Tudo acertado, fui para casa e logo depois de tomar banho e sentir uma cólica mais forte “em onda”, minha bolsa rompeu!!!! Muita emoção, liguei pro papai “volta pra casa” e para minha mãe, chorando, super emocionada, sabia que ela estava pronta e em breve estaria conosco. As contrações se iniciaram imediatamente, comecei a marcar com o aplicativo e já vinham de 5 em 5 minutos e duravam 40 a 60 segundos. Não realizei na hora que isso já indicava um trabalho de parto de fato, estava tão emocionada e envolvida com o sentimento, mas já estava em contato com minha linda doula Aline Barreto e com minha médica Ana Fialho. As contrações vinham e eu achava graça, gravei vídeo toda feliz kkkkkkk, marido chegou em casa, ficamos curtindo, ouvindo músicas. Quando a doula chegou descemos para caminhar pela rua com nossa cachorrinha, e durante uns 30 minutos, senti as contrações se intensificando, subimos, e fui para o chuveiro, agora era a prova: água quentinha nas costas, se aliviasse significava que o trabalho de parto estava apenas engrenando…………mas…………piorou…….. muito, perdeu a graça sabe!?! Não tinha posição, ainda fiquei uns 40 minutos ouvindo as minhas músicas escolhidas para o parto, a luz de velas e deixando a água cair, afinal estava há apenas 2 minutos da maternidade. Só que não kkkkkk, neste momento me contaram que minha médica estava em um emergência do outro lado da cidade, e que deveríamos ir para lá, ou ela encaminharia outra equipe para a maternidade próxima. Olha, “falando” agora essa seria a pior notícia do mundo, mas na hora, juro, não me desesperei, já estava em um estado meio meditativo, onde não haviam muitos pensamentos apenas ações e sensações. Os 40 minutos dentro do carro em trabalho de parto bombante não são mesmo nada legais, me concentrei no meu mantra budista NAM MIO HO REN GUE KYO, poderoso!!! Me manteve alerta e calma, até dava palpites no melhor caminho a fazer kkkkk, mas chegando bem perto da maternidade senti “a tal” vontade de fazer força……..mas já?…… pensei…….achei que demoraria muito mais pra chegar neste “gran finale”. Minha bolsa estorou as 16 hs, isso era 21:40 da noite, 10 cm de dilatação em 5:40hs? entrei hospital a dentro em cena de filme, “SOCORRO, ESTOU PARINDO”, eles, queriam meu CPF, até parece né!!! Fomos entrando, do elevador para sala de parto em 1 minuto, sem nem ter dado entrada oficialmente kkkkkkkk.

O período expulsivo sim foi looooooongo, exaustivo, me fez sentir de fato A DOR, a dor da VIDA, a dor que nos faz mulheres tão poderosas e empoderadas de nós mesmas. A contração passa e você continua ali, VIVA, mesmo achando que vai partir ao meio, querendo trazer seu filho para o mundo, querendo dar A LUZ a ele.

Todo a gratidão ao maravilhoso companheiro da minha vida Tiago, que se manteve firme, vendo todo aquele esforço e dor no meu rosto, empoderado sobre todo o processo, me incentivando, me fazendo lembrar o quanto queríamos que fosse assim, que seria bom para ela, que ela nasceria mais forte!

Me movimentava de todas as formas, bebia água e isotônico, queria sempre voltar para a banqueta e ficar de cócoras, sentia que ela nasceria naquela posição. Constantemente a médica conferia os batimentos cardíacos da bebê durante as contrações, e cheguei a achar que havia algo errado, estava demorando……o expulsivo costuma ser mais rápido……….já havia 1 hora e meia que estava ali. O tempo………não me assustava, estava mesmo muito confiante e não sentia vontade de desistir. Estava na partolândia, pensava pouco, mas observava tudo, sentia tudo, não interagia com ninguém mas estava alerta ao meu redor. A dor me impressionava, mas me impressionava ainda mais a capacidade de suporta-la e continuar em frente, era tudo muito intenso! Mas meu corpo estava fraco, meus braços e pernas tremiam, queria deitar um pouco, e comecei a pedir ajuda a equipe, não estava aguentando mais……… Foi ai que soube que quando eu deitava os batimentos dela caiam, ou seja não rolava de deitar. E que ela já estava há muito tempo no mesmo lugar, sem descer, que podíamos ajuda-la com um vácuo extrator, ou eu poderia tomar uma analgesia. Na hora só pensei e falei que queria o que fosse mais rápido, queria mesmo acabar logo com aquilo tudo e descansar.

Na contração seguinte, minha médica posicionou o vácuo na cabecinha dela que já estava bem baixa, e puxou. Senti o círculo de fogo, ela coroou, agora era comigo, “Vamos nascer, filha, me ajuda!!!”, eu falava para ela! Ainda se passaram 3 contrações para eu ve-la, não senti ela saindo, a sensação na hora era apenas de alívio, a emoção veio com o choro compulsivo do papai ao meu lado. Chorou antes e mais do que Maria Clara!!!! Eu senti o seu corpo, juntinho do meu e era a textura mais macia e maravilhosa que já senti na vida. O cheiro do vérnix, que a encobria, o cheiro dos deuses, nada igual!!!! Nada de dor, apenas plenitude, gratidão ao universo!!!!

O cordão parou de pulsar, papai teve seu momento de protagonista, cortando-o, me levantei (sério!! Nem acredito) e fui deitar para ela mamar. Tudo incrível e perfeito, melhor do que poderia ter sonhado ou pedido. Maria Clara nasceu as 23:52 hs, cercada de amor, proteção e respeito. E nós, é claro, nascemos juntos. Sem dúvida uma experiência que me transformou para melhor e para sempre!

A energia do feminino era palpável naquela sala de parto, pediatra, obstetra, doula, minha madrinha médica, era possível sentir a força de todas as mulheres do mundo com você! Somos muito capazes, poderosas, fortes!!! Nos falta solidariedade às outras mulheres, sempre julgamos, condenamos, ficamos ao lado dos homens, somos, muitas vezes machistas!

Temos que nos unir mais, pois juntas podemos sim mudar o mundo, não há força maior do que a força de uma mulher, de uma mãe, podemos tudo!!!! Este relato não é diminuir qualquer outra mulher que não passou por esta experiência, não acho ninguém menos mãe por não ter optado por um parto assim, por sinal, as mães que mais tem minha admiração são aquelas que nunca geraram ou pariram, são as mães do coração.

Acredito e luto para que possamos optar pelo parto que desejamos, baseadas em informação real, com consentimento livre e esclarecido sobre qualquer intervenção médica que seja feita ao nosso corpo, e a partir disso tomarmos nossas decisões, sem sermos enganadas e termos nosso direito de escolha roubado de nós.

Feliz dia das Mulheres!!!

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Eu voltei!

Olá Pessoal!

Muito tempo não escrevo no meu querido blog e eu queria explicar o porquê disso. Esse ano foi um ano de muitas mudanças em minha vida pessoal e profissional que acabaram por me afastar do blog; e vou contar um pouquinho do que aconteceu.

Para quem me acompanha sabe que eu era (sim, eu era) engenheira e trabalhava formalmente numa empresa privada do ramo de Telecomunicações no momento em que me descobri doula. Fiz meu curso de doula em Junho de 2013, e tive meu primeiro atendimento como doula particular em agosto deste mesmo ano. E desde então, fiz curso de educadora perinatal, de consultora de amamentação, montei o grupo de apoio à gestantes e fui cada vez mergulhando neste mundo mágico do parto, gestação e puerpério. Fui levando juntamente com minha atividade de engenheira, até que um dia…

… Até que um dia não deu mais para sustentar dois mundos tão distintos. Minha carreira antiga foi perdendo o sentido mesmo trabalhando entre pessoas incríveis e fazendo uma atividade bem interessante. Então, finalmente, em setembro de 2014 resolvi pedir demissão e me dedicar somente à minha família e à doulagem.  E não parei por aí. No início de 2015 comecei a faculdade de enfermagem, além de manter minhas outras atividades.

E diante de tantas mudanças de projetos de vida; adaptações; novos aprendizados; acabou que não consegui mais me dedicar ao blog. E isso sem falar nas mudanças pessoais e ideológicas que estão moldando essa Aline que vive em constante desconstrução/construção. Dentro deste movimento de mulheres tenho aprendido bastante sobre o feminismo e relevância dele na busca das mulheres por seus partos respeitosos.

Enfim… este post é justamente para dizer que estou de volta e com a corda toda! Muitas idéias a vista, novos projetos, novos sonhos e com muito mais aprendizado na bagagem.

Não deixe de nos acompanhar que 2016 virei com tudo!!!