Parto Idealizado x Parto Real

O tema do encontro da semana passada do GAPP Maternidade Suave foi Parto Idealizado x Parto Real. Foi um tema tão bacana e a discussão tão rica que resolvi dividir com as leitoras do blog também.

Essa é uma questão que pode gerar pontos de frustração para a mulher que não se prepara para imprevisibilidade do parto, pois nem tudo pode ser planejado (ou melhor, muito pouco pode ser planejado).

Para começar, quando você gestante começa a pesquisar sobre parto na internet, chove dúzias de vídeos caseiros ou não de partos lindos, perfumados e cheios de amor. Não que isso não exista no parto, mas temos que lembrar que boa parte desses vídeos são editados, e as partes menos “poéticas” por vezes  não aparecem. E eu acho importante que a mulher conheça essa outra parte também. A mulher precisa saber que durante o trabalho de parto, por vezes, também tem cocô, xixi, gases, muco, suor, sangue, choro, grito, palavrões, beliscões e assim vai. É claro que é um evento totalmente envolvido de amor, mas que também tem esse lado mais animal. E mesmo sendo animal, não quer dizer que é feio. É humano. É visceral. É vida. E isso também tem toda uma beleza que os olhos mais sinceros conseguem enxergar.

Outra questão que pode entrar em conflito com a idealização do parto é o planejamento. Quando a mulher escolhe deixar a natureza agir, muitos passos podem não ser planejados. Não dá para saber a data exata que o bebê vai nascer, não dá para ter certeza se seu companheiro estará ao seu lado quando tudo começar, muito menos dá para saber quanto tempo seu trabalho de parto vai durar. Sempre ouvimos que para as mulheres mais controladoras, parir naturalmente é algo que angustia, já que não dá, em teoria, para ter o controle da situação. Mas neste encontro eu ouvi de uma gestante algo bem pertinente. Ela se considera uma pessoa bem controladora e quando ela buscou uma equipe que a respeitasse e respeitasse o tempo de nascer do seu filho, na verdade ela estava em busca do controle do seu parto, pois ela não queria delegar este evento tão importante da vida dela na mão de outra pessoa. Não seria o médico a decidir o momento do nascimento do seu filho, e sim o filho dela e ela. E isso através do seus corpos que irão trabalhar conjuntamente para que isso aconteça. E para mim tal afirmação faz todo o sentido. Ou seja, mesmo que aparentemente não dê para controlar quando acontecerá o parto, saiba que você mulher que estará no controle. Sei que este argumento pode servir de alívio para alguns casais mais planejados.

Uma outra coisa pensada por mim em relação a idealização do parto é a questão da dor. Nenhuma mulher quer sentir muita dor e pelos vídeos editados que vemos na internet parece mesmo que a dor não é tão grande assim. Saiba que a dor é bem grande sim, dói muito mesmo e talvez seja a dor mais intensa que você já sentiu em toda sua vida. No entanto, todos sabemos que a dor é relativa de pessoa para pessoa. Não dá para generalizar. Não queira tirar o exemplo da sua vizinha como a realidade que acontecerá com você, tanto positivamente, quando negativamente. Isso não dá certo. A sua experiência com a dor é sua e única e também poderá ser bem diferente de um filho para outro. E outra coisa que gosto de destacar que essa dor mais intensa, aparece em geral no fim do trabalho de parto e existe intervalos entre as contrações que é o momento de respirar e se preparar para a próxima contração. Enfim…Você, gestante, precisa saber que a dor pode ser forte sim, mas que você é maior que ela e que você vai vencer essa dor. Não tenha dúvidas disso.

Outro ponto importante que gostaria de falar é sobre o tempo de trabalho de parto. Tenham em mente que trabalhos de parto podem durar mais de 12 horas (isso sem considerar os pródromos) e algumas vezes mais do que 24 horas (ainda mais sendo o primeiro filho). Isso é mais normal de acontecer para a mulher urbana (digo mulher urbana, pois entre as mulheres do campo o tempo tende a ser bem menor, já que elas idealizam muito menos esse evento). Tenham em mente que se nascer antes disso é lucro (apesar que na hora mesmo você nem vai lembrar de nada disso, mas é bom seu companheiro estar ciente disso para que na hora ele fique mais tranquilo, caso ele ache que está demorando muito). Mas existem trabalhos de parto super rápidos também, tipo 3 a 4 horas. O importante é você não se prender muito na questão do tempo e não colocar isso como um fator estressante para seu trabalho de parto.

Para muitas o uso de algumas intervenções pode ser frustrante também. A maioria das mulheres imagina um parto liso, o mais natural possível, e quando alguma intercorrência acontece, isso pode ser frustrante para mulher. É sabido que quanto mais se respeitar a fisiologia do parto, quanto mais amistoso for o ambiente do parto, quanto menos personagens tiver na cena do parto, mais chances de um parto sem intervenções. Mas intervenções existem e algumas vezes ela pode salvar o seu parto, quando bem aplicada. Para mulheres com suspeitas de pré-eclampsia, por exemplo, a possibilidade de fármacos para indução de parto, lhes proporciona chances de um parto seguro. Já vi KIWI sendo muito bem aplicado, ajudando muito a mulher no expulsivo. Já analgesias salvando partos. Mas estejam certas que na grande maioria dos casos, nada disso é preciso, mas pode ser necessário.

Além disso, existem trabalhos de parto que não terminam em parto. Você pode ter se preparado bastante para o parto, ter feito Ioga, ido aos grupos de apoio, escolhido uma equipe realmente alinhada com a humanização do parto, se empoderado, mas no fim tudo terminar em cesárea. Você pode ter feito tudo certinho, mas no fim, por algum problema seu ou do bebê, a cesariana pode ser escolhida como melhor opção. Sei que para quem se preparou tanto, isso pode ser muito frustrante, mas tente encarar de outra forma.  Se você estiver realmente acompanha por uma equipe que segue as evidências científicas e mesmo assim seu parto terminar em cesárea, agradeça a Deus pela cesárea existir, pois ela pode ter salvo a sua vida e a do seu filho. Pense nisso e siga em frente. Existem tantas outras questões envolvidas no pós-parto tão importantes ou mais que o parto em si, como a amamentação, por exemplo, que também não é nada fácil. E se você tem dúvidas se a sua equipe realmente estava alinhado com as evidências científicas e se sua cesária era realmente necessária, eu sugiro que você busque as respostas sim, mas no tempo correto.

Ainda tem situações muito mais sensíveis que podem acontecer durante o parto. Seu bebê, pode por exemplo nascer com alguma dificuldade que inspire cuidados mais específicos, a até mesmo a necessidade de UTI neo-natal. Claro que para partos respeitosos, isso tipo de coisa é mais difícil de acontecer, e também não gostamos muito de pensar sobre essas coisas, mas isso pode acontecer sim. Devemos sempre ser positivas e acreditar que tudo dará certo, e na maioria dos casos dá certo mesmo, mas não podemos esquecer que a vida é imprevisível e tudo pode acontecer.

Como já disse antes, o puerpério pode ser um momento de muitas dificuldades, pois é adaptação sua com seu bebê, mudança da rotina da casa, amamentação… E se você colocar a culpa por não ter escolhido uma outra equipe, ou a tristeza pela equipe em questão ter te decepcionado, ou qualquer outro sentimento negativo, isso pode dificultar ainda mais a sua adaptação com seu bebê. São muitos sentimentos trabalhados ao mesmo tempo. Neste primeiro momento foque principalmente na sua relação com seu bebê. Depois que essa relação estiver bem estabelecida, vá atrás da sua cura que também será importante para qualidade desta relação.

Bem, espero ter ajudado algumas mulheres a entender este momento tão mágico e especial da vida delas, que mesmo não sendo o “ideal”, é o perfeito para aquela mulher e seu bebê, pois é único. Uma vez que ninguém, nunca, vai viver essa experiência da mesma forma que você, pois ela pertence somente a ti e a sua família que agora estará maior e com muito mais amor também.

Bom Parto!

Atualizado em 19/03/2016

 

Chegou o momento de frear…

Finalmente estou aqui de volta para escrever no meu blog querido que estava abandonado devido à minha antiga agenda de vida que não me dava uma trégua.

Parando para pensar, não sei como conseguia conciliar tantas coisas no meu dia-a-dia: Filha, marido, mil compromissos familiares, sobrinhos, vida social agitada com amigos, Embratel, Doulagens, Grupo de apoio, blog, facebook, doces…

Enfim mil e uma atividades que não me davam tempo de respirar. Só que quem já me conhece sabe que eu realmente sou ligada no 220 v e se tem algum horário do meu dia vago eu acabo por preenchê-lo.

No entanto, isso vinha me cansando. Cansando muito. E ao conversar sobre a minha rotina e a rotina de uma amiga querida, vi o quanto acelerada eu estava e que isso poderia estar fazendo mal também para minha filhota. Então resolvi dar um freada. E o primeiro passo foi pedindo demissão do emprego que não fazia mais sentido na minha vida. Eu gostava do ambiente de trabalho, adorava meus colegas e minha chefe, mas não conseguia mais enxergar um sentido naquela minha rotina diária que era super exaustiva e me afastava da minha princesa por mais de 12 horas diárias.

Eu precisava começar por ali. E calhou de a pessoa que cuidava da minha filha (minha querida tia) não poder mais olhá-la; e essa foi a ajuda do destino para me dar a última gotinha de coragem para tomar essa decisão.

E assim foi, pedi demissão e finalmente a Engenheira agora passou a ser Doula em tempo integral.

Ops… Não integral, pois a mulher combina várias outras mil funções tão importantes ou mais que a atividade profissional.

Mas sentia que precisava também de outros freios em minha vida. Precisava evitar os programas sociais que costumava aceitar, mas que bagunçavam totalmente a rotina da Maria Elisa, pois muitas vezes eram noturnos. Precisava ficar mais dedicada à ela ao invés das redes sociais. Precisava brincar mais, pular mais, dançar mais. Ter momentos só meu e dela.

Sempre pratiquei Criação com Apego aqui em casa, mas sentia que faltava tempo de contato e isso me angustiava demais. Eu levava Maria Elisa para todos os eventos comigo, e achava que ali estava tendo tempo com ela, mas na verdade não. Pois a criança precisa de um tempo especial, um tempo só dela com sua mãe/pai. Quando eu estava com ela em outros eventos, com outras pessoas, na verdade eu estava me dividindo entre ela e as outras pessoas. E eu que sempre fui muito sociável, nunca gostei de rejeitar nenhum convite de amigos e familiares queridos. Mas agora, quanto mais tempo eu passo com minha filha, mais vejo a necessidade desse tempo dedicado à nós duas e menos vontade tenho de estar em eventos que me tirem de casa (aliás, tô adorando ficar em casa!!!). Parece que estamos tentando compensar o “tempo perdido”.

Só sei que agora finalmente, posso acordar ao lado da minha filha sem deixá-la chorando para ir trabalhar (ela fazia isso quase todos os dias que acordava antes de eu sair de casa por dois anos). Agora sou eu que a deixo na escolinha com o coração na mão (inclusive a adaptação dela foi super boa na escola) e quando vou buscá-la, ela vem com todo amor e carinho correndo, gritando “Mamãe” para me abraçar. Passamos a tarde juntas brincando, conversando, discutindo, educando, cozinhando, indo ao parquinho, nos conhecendo mutuamente e aprendendo cada uma com a outra sobre essa linda e trabalhosa relação mãe e filha. Agora sim, posso dizer que estou vivendo uma “Maternidade Suave”.

Além disso tenho mais tempo para me dedicar ao assunto que mais amo! Quem me conhece já sabe do que estou falando 🙂 Agora consigo estudar cada vez mais sobre parto, gestação, puerpério e criação de filhos. Além das doulagens… que é onde eu encontro um verdadeiro sentido de existir! É um prazer incomensurável estar ao lado de bravas mulheres num momento tão único na vida delas e saber que de alguma forma eu pude ajudá-las. Isso realmente não tem preço!

Estou realmente muito grata a Deus por estar vivendo essa nova fase. Agradeço à Deus todos os dias por esse meu atual momento…

Acho que esse é o primeiro post pessoal que posto aqui. Mas quis dividir isso com quem me acompanha para dizer que agora nessa nova fase terei mais tempo de postar aqui no meu bloguinho. Agora vocês verão cada vez mais novos posts meus. Muito feliz por isso também!

E também gostaria de deixar uma pergunta no coração e mente das mães que leem o meu blog. Você sabe quando é o momento de por o pé no freio e reformular toda uma rotina de vida?!

Esse foi o meu momento de frear.

E o seu? Já pensou nisso?!

Beijos!