Não sei você, mas antes de começar a estudar sobre parto (o que aconteceu antes de eu engravidar da minha filha), toda vez que eu pensava sobre um trabalho de parto, sempre imaginava como prática normal o pic na vagina.
Nessa época nem sabia o nome correto dado para esse corte na vagina, depois que vim a saber que o nome técnico para este corte é epsiotomia.
E para mim a epsiotomia era tão necessária quanto a lavagem (assunto para outro post), pois onde já se viu, um bebê sair pelo buraco de uma vagina sem um corte para “ajudar”?!?!?!?!? Iria arrebentar a mulher toda!!! Assim pensava eu. E creio que grande parte das pessoas pensam assim também.
Depois de ler muito sobre a fisiologia do parto, sobre a anatomia da mulher que vi o quão enganada estava todo esse tempo. Mas era de se esperar eu ter aquele tipo de pensamento, uma vez que minha mãe teve epsiotomia em todos os seus 4 partos. E minha referência de parto normal sempre foram os partos da minha mãe.
Para entender a razão desta prática ser tão desnecessária e agressiva do ponto de vista da anatomia feminina, vamos para a história e verificar quando se iniciou esta prática e o porquê dela ter sido implementada.
A sua prática foi introduzida no século XVIII por um obstetra irlandes, Sir Fielding Ould(1741), para ajudar o desprendimento fetal em partos difíceis. Neste momento, a técnica não ganhou tanta popularidade. No entanto, o procedimento foi disseminado durante o século XX em diversos países, principalmente nos Estados Unidos da América e países latino-americanos, entre eles o Brasil, principalmente pelo fato do parto passar a ser realizado em hospitais ao invés de em casa. E neste mesmo momento, o parto deixou de ser visto como um evento fisiológico e passou a ser visto como uma patologia, onde o profissional da saúde deveria atuar para que o corpo “defeituoso” da mulher pudesse ser capaz de parir.
A epsiotomia foi difundida enormemente a partir da década de 20, principalmente devido à dois famosos obstetras Pomeroy e DeLee que recomendavam o uso da epsiotomia de forma sistemática, jutamente com a utilização do fórceps, com a justificativa de que a epsiotomia preveniria lacerações perineais graves e preservaria o assoalho pélvico. Tal técnica coincidiu com o número cada vez maior de partos hospitalares, onde a mulher era colocada deitada e o bebê retirado por fórceps. Sua prática atingiu o ápice durante os anos 50.
Só a partir da década de 70 começou a diminuir o seu uso, devido à luta de militantes a favor de um parto ativo, e concomitantemente o surgimento dos primeiros estudos clínicos bem conduzidos que questionavam o uso rotineiro da epsiotomia.
Em 1983 teve a importante revisão de Thacker e Banta, em que se demonstrou, além da inexistência de evidências de sua eficácia, evidências consideráveis dos riscos associados ao procedimento: dor, edema, infecção, hematoma e dispareunia. Depois deste estudo, teve outro grande estudo Argentino questionando a sua prática em 1993.
A revisão sistemática da Biblioteca Cochrane, atualizada pela última vez em 2009, inclui oito ensaios clínicos randomizados e um total de 5541 parturientes, submetidas à episiotomia seletiva ou rotineira. No primeiro grupo, 28,4% receberam episiotomia, contra 75,2% no segundo grupo. Os autores concluíram que os benefícios da episiotomia seletiva (indicada somente em situações especiais) são bem maiores que a prática da episiotomia de rotina. Os resultados apoiam claramente o uso restritivo da episiotomia, embora não tenha sido esclarecido em quais ocasiões deveria o procedimento ser realizado.
FONTE: Melania Amorim (http://estudamelania.blogspot.com.br/2012/08/estudando-episiotomia.html)
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O que acontece é que apesar dos estudos comprovarem que a prática rotineira da episiotomia é totalmente desnecessária, uma grande parte dos profissionais a pratica de forma indiscriminada. E como já foi dito, essa é uma intervenção que pode ser super traumática para mulher e prejudicar sua vida sexual futuramente.
Mas sempre tem a pergunta: “Esperar lacerar não é pior que já fazer o corte?” Eu respondo: “Não! Não é pior!” É muito melhor lacerar do que sofrer uma epsiotomia. Eu sempre dou o exemplo da manga da camisa. Pensa que vc está usando uma blusa com várias camadas de tecido, por onde naturalmente passa o seu braço. Agora tenta passar a sua coxa. Os tecidos tem certa elasticidade e caso você vá tentando passar sua coxa aos poucos, as camadas dos tecidos vão cedendo. Se a coxa for muito grossa, ou se passar de forma abrupta, os tecidos podem romper, e se romper, romperão da camada mais externa para a mais interna. Agora imagina se você faz um talho com a tesoura em todas as camadas do braço da blusa. E então tenta passar a coxa. Como já tem este talho, fica muito mais fácil do corte correr e fazer um corte muito maior, e se a coxa passar de forma abrupta, o risco é maior ainda. A mesma coisa acontece com o nosso perineo. Se deixamos o bebê passar de forma natural, poderá lacerar ou não; e se lacerar, a laceração será das camadas mais externas para mais internas. Agora se uma epsiotomia for realizada, todas as camadas do períneo serão cortados, inclusive a musculatura do assoalho pélvico. E além de já ter todas as camadas cortadas, as chances de ter um corte mais extenso da episiotomia já realizada é muito maior.
Acho que a única situação que vejo a epsiotomia como necessária, seria, por exemplo, você já estar no expulsivo e os batimentos cardíacos caem abruptamente e o bebê tem que nascer da forma mais rápida possível. Então faz-se a episio afim de salvar a vida do bebê. Agora, ser feita de forma rotineira, só porque o profissional que o está atendendo diz que aprendeu assim, sempre fez assim, e sempre fará assim… Não dá! Síndrome de Gabriela ninguém merece!!!
Enfim, proteja seu períneo!
Não permita que façam em você uma mutilação vaginal!